O mundo em colapso: Como o Trumpismo e o Fascismo exploram o medo coletivo para criar uma legião de seguidores obedientes
- Andréa Fidelis
- 28 de mar.
- 3 min de leitura

O cenário é perfeito para o caos: pandemias, guerras, crises climáticas, governos autoritários ascendendo – e, no centro disso tudo, um homem que transformou o medo em arma política. Donald Trump não criou o pânico, mas soube manipulá-lo como ninguém. E o resultado? Uma sociedade intoxicada por ansiedade, pronta para eleger bodes expiatórios e se render a um líder messiânico que promete salvação através da divisão.
O medo como estratégia de dominação
O medo é um instinto primitivo. Nos tempos das cavernas, ele nos protegia de predadores. Hoje, ele nos transforma em predadores de nós mesmos. Quando uma sociedade inteira é tomada pelo pânico, o cérebro coletivo entra em modo de sobrevivência – e busca um inimigo para justificar o terror. Não importa se é real. Basta que seja conveniente.
E quem são os alvos preferenciais? Os diferentes. Os imigrantes. Os negros. Os LGBTQIA+. Os "comunistas". Os que pensam fora da caixa. Trump percebeu que, quanto mais dividida a sociedade, mais forte ele ficaria. E assim, transformou o ódio em plataforma política.
A psicologia do rebanho assustado
Freud já previra: pessoas com medo agem como crianças à procura de um pai rigoroso. Não querem pensar – querem ser guiadas. Não querem responsabilidade – querem proteção. E Trump, com seu discurso de "eu sozinho posso consertar", tornou-se o tirano benevolente que milhões ansiavam.
Seus seguidores não seguem um homem – seguem uma ilusão. A ilusão de que a complexidade do mundo pode ser reduzida a um inimigo único. E, nesse delírio coletivo, fatos não importam. A verdade é o que o líder diz. A realidade é o que o grupo aceita. Quem ousa questionar é traidor.
O culto ao salvador e a morte do pensamento crítico
O trumpismo não é só política – é um fenômeno religioso. Seus fiéis não debatem ideias; defendem dogmas. Trump não é um presidente falível – é um "escolhido", um "ungido". Suas falhas são justificadas, seus erros são negados, seus crimes são glorificados. Porque, para quem vive no medo, a fé no salvador é a única âncora.
E o preço dessa devoção? A abdicação da razão. Quando o medo governa, não há espaço para diálogo, apenas para obediência. Não se pensa – reage-se. Não se constrói – destrói-se. O trumpismo é a vitória do instinto sobre a inteligência, do tribalismo sobre a civilização.
Um novo rosto para um problema antigo
Isso vai além de Trump – o fascismo tem se tornado um alarde global. O mesmo roteiro se repete: Bolsonaro no Brasil, Milei na Argentina, Meloni na Itália, Le Pen na França. A nova extrema-direita não é acidente – é sintoma. Alimenta-se do mesmo medo, dos mesmos bodes expiatórios (imigrantes, esquerdistas, minorias), e promete a mesma ilusão: "Eu sou o único que pode salvá-los".
Hoje, com crises econômicas e identitárias como combustível, a estratégia se repete:
Na Europa, líderes como Giorgia Meloni e Viktor Orbán vendem “pureza cultural” contra refugiados.
Na América Latina, Bolsonaro e Milei transformam a esquerda em demônio único, enquanto privatizam direitos.
Até em democracias consolidadas, como França e Portugal, a retórica do “nós contra eles” ganha terreno.
Infelizmente o fascismo não morreu em 1945 – deixaram as botas militares de lado e aprenderam a disfarçar-se de democracia, e sua arma mais eficaz continua sendo o pânico coletivo e novos aliados: os tweets e algoritmos.
Como escapar dessa armadilha?
A saída não está em buscar novos salvadores, mas em assumir a maturidade coletiva. Reconhecer que problemas complexos exigem soluções complexas. Que o inimigo nunca foi o imigrante, o negro, o gay – mas sim a nossa própria incapacidade de lidar com a incerteza.
O antídoto para o trumpismo? Inteligência espiritual. Não no sentido religioso, mas no humano: a coragem de encarar a realidade, pensar criticamente e agir com responsabilidade. Enquanto buscarmos pais autoritários, seremos eternas crianças assustadas.
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