O MEDO DA MORTE E A INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL
A morte. Uma palavra pequena, mas com um peso imenso. O simples pensamento da finitude da vida muitas vezes nos traz um sentimento de desconforto, ansiedade e medo. É um assunto delicado, mas extremamente importante de ser abordado.
O medo da morte surge de uma incerteza, daquilo que é desconhecido. É natural que nos sintamos apreensivos diante de algo que nunca vivenciamos e que está além da nossa compreensão. No entanto, é importante identificar que o medo é uma reação emocional natural e para lidar positivamente com ele é necessária uma reflexão profunda sobre o tema da finitude da vida.
Como psicóloga, tenho observado ao longo dos anos como o medo da morte afeta as pessoas de diferentes idades: para as crianças que começam a refletir sobre o tema surge o medo do abandono; para os adultos que passaram por experiências de proximidade com a morte uma ressignificação da existência; e para os idosos que temem a proximidade da morte eminente.
Ao falarmos sobre esse tema com as crianças, é essencial respondermos até onde a própria criança consegue entender. E como se faz isso?
- Respondendo somente aquilo que ela tem dúvida, sem filosofar ou apresentar explicações religiosas que são difíceis dela compreender.
Por exemplo: se ela perguntar por que o vovô morreu não responda que Deus o levou, pois isso dá uma ideia de que Deus é mau e pode leva-la também. Se ela perguntar se os pais vão morrer, isso está expressando o medo da criança de ser abandonada e ficar desamparada. Para ela se os pais morrerem ela não vai conseguir sobreviver. Você pode responder que você não vai abandoná-la e que ela sempre terá pessoas queridas a cuidar dela.
Então, reforçando a ideia anterior: a abordagem adequada dependerá da idade da criança e do seu nível de maturidade emocional. Devemos responder às suas perguntas de forma honesta e adequada à sua compreensão, sem oferecer informações excessivas que possam ser avassaladoras. Podemos dizer que a morte faz parte do ciclo natural da vida, assim como as estações do ano. A primavera sempre retorna após o inverno, e da mesma forma, há uma continuidade após a morte.
Aqui, entra em jogo o conceito de inteligência espiritual. Diferente da inteligência racional e emocional, a inteligência espiritual propõe a reflexão profunda sobre temas da existência humana. Ela diz respeito à nossa capacidade de encontrar significado e propósito na vida. É a habilidade de transcender as preocupações mundanas e conectar-se a algo maior do que nós mesmos. Ao começar a reflexão sobre a vida é natural refletir sobre a finitude da mesma e seus significados.
Quando desenvolvemos nossa inteligência espiritual, começamos a refletir sobre o que é a morte. A finitude da vida leva a considerar se estamos aqui por acaso ou somos parte de algo muito maior que nós mesmos. O que se estabelece é a dúvida: afinal somos corpos com alma ou consciência ou somos consciência com corpo físico?
Para superar o medo da morte, é essencial cultivarmos uma visão mais ampla da existência humana. Você pode começar refletindo sobre o propósito da tua vida, sobre o legado que você deixará para trás. Porque SIM você deixará um legado positivo ou negativo (querendo ou não). Para descobrir qual é o seu legado procure buscar conexões significativas com outras pessoas, aquilo que viveram, transformaram e/ou contribuíram para a vida dos demais e para a comunidade.
Ao compreendermos a morte como algo que faz parte da vida, como uma passagem, como um capítulo de nossa jornada podemos diminuir o medo que ela desperta. A inteligência espiritual aponta para essa reflexão: quem sou? O que estou fazendo aqui? Há algo maior que eu em minha vida? A vida é só material? Há um sentido em toda a existência humana? A morte existe?
Viver a vida, refletir sobre ela, questionar-se, ir além das aparências e do que é dito, buscar um significado e um caminho que faça sentido, isso é inteligência espiritual. A morte só tem sentido se faz parte de uma vida plena. Então viva a vida considerando o ponto inicial e o ponto final, como um prazo que você tem para desenvolver-se como pessoa. Não deixe a morte te surpreender e nem fuja dela. A reflexão sobre a morte pode ser uma linda oportunidade de você aprender a viver “de verdade” a sua vida.
Para acompanhar essa conversa na íntegra você pode assistir essa live:
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